sábado, 26 de março de 2011

O CIDADÃO ISAIAS BUCCO E A CONSERVAÇÃO DAS ESTRADAS DO CAMPO


Eponina e Isaias Bucco (01/2010)
           Acostumamos desde crianças a ver nosso pai, (Isaias Bucco) especialmente em dias de chuva ou imediatamente ao início da estiagem, tomar uma foice e uma enxada, e seguir rumo às estradas que cortavam a sua UPVF (Unidade de Produção e Vida Familiar ou "propriedade") e para além dela. Costumava colocar um chapéu, alguma capa ou plástico para proteção da chuva. Vez ou outra provocava a vizinhança ali de Três Palmeiras III e Passo Grande, (atualmente a localidade de Três Passos), para fazer o mesmo, principalmente quando as beiras de estrada estavam com a mata invadindo o caminho, a fim de roçar e facilitar tanto o acesso como a passagem das máquinas (ainda nos anos de 1960, quando Candói pertencia a Guarapuava e as máquinas passavam 'alisando' os caminhos a cada quatro anos).
         À medida que atingíamos a idade da razão nosso pai nos fornecia uma enxada e íamos com ele, caminho a fora, desobstruindo os "desaguador", as valetas ou valas entupidas, por onde deveriam escorrer as águas da chuva, nas estradas do campo ou "rurais". Ele tinha especial cuidado com estas águas que corriam ao tempo das chuvas e outras vezes temporariamente, quando se formavam pequenas "vertentes", minas ou fontes que liberavam água por muitos dias e podiam provocar grandes estragos e até "atoladores" pelas estradas de rodagem.
          Nosso pai vem de um tempo em que os moradores de uma determinada comunidade não podiam se dar ao luxo de esperar o poder público manter as estradas arrumadas e conservadas. Acreditava que a conservação era um dever de todos os usuários, especialmente de quem morava e precisava ir e vir por aqueles caminhos. Ainda nos anos 60 e 70, ele, alguns vizinhos e alguns agregados que havia em sua UPVF, reuniram-se em mutirão, com foices, enxadas, enxadões, picaretas, pás, arado de boi, e cortaram novos trechos de estrada para desviar atoleiros (por onde não se conseguia passar nem com carroça). Pelo menos em dois trechos cortaram novos caminhos e evitaram locais para onde afluíam grandes quantidades de água ou vertentes.
          A produção para ser escoada, naqueles tempos, ia desde porcos que eram criados tanto na forma de "safra" engordada na "tiguera" das roças de milho, como cargas de milho e feijão. E as estradas deveriam ser conservadas para facilitar o acesso nada fácil naqueles dias. Desde modo nosso pai nos deixou mais este exemplo de atitude contra a indiferença, a passividade e o paternalismo.
         O que escrevemos aqui não exime o poder público de suas responsabilidades de fazer a manutenção e a conservação das estradas. Aliás, a prefeitura municipal deveria ter uma equipe de manutenção pública composta de três ou mais homens,  bem remunerados, com uniformes adequados às condições do tempo, munidos daquelas ferramentas básicas (conforme citamos anteriormente) para passar sistematicamente por todos os caminhos, em todas as comunidades, fazendo os serviços básicos de manutenção e ao mesmo tempo ir mapeando aqueles trechos mais complicados para se fazer as intervenções necessárias com as máquinas mais pesadas/motorizadas, colocando as manilhas, dentre outros. Deste modo evitar-se-iam grandes gastos com máquinas trabalhando de novo, outra vez transportando "cascalho", dentre outros, considerando que há partes das estradas que se conservam por muito tempo transitáveis.
          Muitas vezes por conta de um desaguador inadequado ou obstruído por vegetais, restos de capim e rochas ou devido a um bueiro trancado, um grande trecho de estrada fica comprometido ou estragado. Já aconteceu de estarmos transitando em dias de chuva pela via Candói-Três Passos (e vice versa) e parecer que rodávamos por um verdadeiro rio, por muitos quilômetros. As consequências deste fenômeno são públicas e notórias. Uma equipe de manutenção que transitasse apenas nos dias ou horários chuvosos sanaria este problema rapidamente. Por outro lado seria bom que o poder público, através de seus eventos, em parceria com as associações, as escolas, sindicatos, igrejas e outras organizações, procurassem desenvolver uma cultura de participação e manutenção (paralela ou conjunta) com a equipe de manutenção pública.

Nenhum comentário: