sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Patologia da Normalidade


Cláudio Vital de L. Ferreira*


Definitivamente a normalidade dos dias de hoje está cada vez mais intolerável para mim. A mídia, principalmente a televisão, tem nivelado as mentes. Está se tornando proibido pensar. Faustão pensa por nós. Ana Maria Braga pensa por nós. O “jornal nacional” pensa por nós. A “Globo” pensa por nós. E tome novelas, filmes, frivolidades e passa tempo, num processo constante de manutenção da hipnose, pois é proibido pensar.

Tornou-se “normal” passar de 30 a 40 anos levantando todos os dias de madrugada para ir trabalhar, pegando ônibus superlotado na ida e na volta para percorrer o trajeto de casa ao trabalho, deixando os filhos aos cuidados de outras pessoas, às vezes parentes, outras empregadas ou então em creches e escolas, para no final de tantos anos se aposentar doente com um soldo miserável. Tornou-se normal e necessidade a mulher também entrar no mercado de trabalho para ajudar nas despesas da casa, deixando de lado a educação dos filhos. Isso todo dia, todo dia, todo dia. Os finais de semana são vividos como verdadeiras bênçãos de Deus, quando se dorme, se come muito, se vê Televisão. Sexta a tarde, apesar de todo o cansaço da semana, suscita alegria, pois amanhã é sábado e depois domingo. E quando há um feriado, que delícia! Domingo à tarde e Segunda de manhã são momentos de angústia e estresse, pois lá vem outra semana dura, levantando de madrugada e chegando tarde da noite depois de um dia de muito trabalho e desgaste. Tornou-se normal se comer sanduíches, os chamados “fast food” para não se perder tempo e se ganhar quilos a mais e saúde a menos. Se tornou normal trabalhar muito para se ganhar sempre menos do que necessitamos para sobreviver, onde o salário se evapora nos primeiros dias, enquanto o mês parece demorar uma eternidade para terminar.

Tornou-se normal escutar música sertaneja, rock, e funk. Os riquinhos então amam se martirizar com essas músicas tocadas em volume estridente produzido por aparelhos possantes dentro de caminhonetes reluzentes. Tornou-se normal buscar levar vantagem em tudo, dentro da popularmente conhecida “ lei de Gerson”. Somos auto complacentes quanto a transgredir leis, a cometer ilicitudes, pois afinal de contas “ todo mundo comete”. Tornou-se normal criticar os altos salários dos políticos e principalmente seus atos por serem considerados pouco éticos, mas se sonega imposto, se desrespeita o sinal de trânsito, se xinga pedestres atravessando a rua sobre a faixa branca. É um salve-se quem puder onde o mais “ esperto” sempre acha que vence.

Quase trinta anos de vida acadêmica me tornaram normal demais. Limitado que sou, muito mais do que a maioria das pessoas a minha volta, demorei algumas décadas para me rebelar. Definitivamente precisei enlouquecer. Napoleon Hill considera esse processo muito difícil pois todos caminham empurrados para uma mesma direção e para eles você está na direção errada. Uma universidade onde dei aulas durante seis anos me demitiu, pois alguns alunos perceberam que eu estava doido. Eu não dava as aulas mais da forma que esperavam de mim. Eu questionava as teorias acadêmicas. Eu me recusava a pensar pelos alunos. Eu puxava os alunos para que pensassem e construíssem a própria história a partir de suas raízes e problemas. Meus dois últimos anos em uma Universidade Federal, antes de aposentar, depois de duas décadas e meia como docente aí, foram tumultuados. Eu não ensinava mais aquilo que exigiam que eu ensinasse. Os alunos se preocupavam com notas e freqüência. Meus colegas docentes estavam preocupados se eu estava cumprindo o “programa” e se o que eu estava “dando aos alunos” estava dentro do “cronograma”. Ou seja, eu tinha que cumprir um “script”. Tudo certinho, estabelecido, definido. Desgostei alunos, colegas docentes, coordenador de curso e minha chefe. Era proibido pensar. A ordem era passar “conhecimentos” aos alunos, transmitir “conhecimento” e exigir em provas e trabalhos o aprendizado do meu pretenso conhecimento das tais teorias acadêmicas. Me dei conta que por muito tempo reproduzi de forma sofisticada o mesmo processo de hipnose usado por Faustão e “ratinho” na Televisão.

Não consigo mais ser normal. Nos últimos anos tenho piorado bastante. Universidade para mim tem o mesmo sentido dado pelo grande José Pacheco à Escola da Ponte. Quase sempre é enfadonho ver televisão. As músicas que a maioria das pessoas gostam me martirizam. Levanto cedo para fazer o que gosto e não para ir bater ponto em um emprego. Amo trabalhar finais de semana onde todos descansam. Adoro brincar com minha filhinha de sete anos e me emociono toda vez que seu olhar cruza com o meu.

Nasci na roça no sul de Santa Catarina e aí vivi toda minha infância. Era feliz com meus pais e alguns irmãos. Adorava procurar araçá na mata para comer. Subia em coqueiros para colher seus coquinhos quando amarelos. Ah que delícia aquelas quaresmas amarelinhas à beira do rio. Como era gostoso tomar banho nu no rio de águas cristalinas. Era incrível a caça as rãs para comê-las, depois de fritas por minha mãe. Peguei uma vez um jundiá enorme bem na beira do rio, de causar inveja aos meus dois irmãos que conviviam mais de perto comigo e gostavam de pescar em águas mais profundas. Que sensação de liberdade caminhar de pés no chão pela mata às margens do rio e poder fazer xixi ao pé de uma árvore. Como me sentia acolhido quando a noite, a luz de um lampião nos sentávamos para jantar e depois conversar em família e por último, antes de ir dormir, ouvir uma estorinha ora contada por meu pai, ora por minha mãe. Eu era muito feliz, mas ouvia sempre em um velho rádio à bateria que meu pai tinha, que a vida era bem melhor em uma cidade grande. Comecei então a sonhar que seria melhor morar em uma grande cidade. Porto Alegre seria legal, mas se fosse Rio de Janeiro seria um sonho. Se pudesse um dia morar em uma cidade no Exterior então seria inacreditável. Morar em Londres, na Inglaterra, passou a ser um dos meus maiores objetivos na época. Nunca morei em Porto Alegre, mas morei no Rio de Janeiro onde fiz minha graduação. Morei também em S Paulo. Foi aí que percebi que cidade grande tem menos encantos do que eu pensava. Morei em Barcelona na Espanha e realizei meu sonho de morar em Londres. Aos 60 anos de idade a vida me ofereceu muitas oportunidades as quais aproveitei para conhecer lugares diferentes e aprender com a experiência.

Hoje me dei conta que a ordem estabelecida pela natureza me harmoniza enquanto que a produzida pelo homem me estressa. Não tenho mais ilusões sobre as “vantagens” das cidades grandes. Percebi que a vida é simples como a natureza é simples. Somos como a semente, nascemos, vivemos e morremos! Simples! Mas, a sabedoria nos ensina que a felicidade não se encontra no final. Como diz o grande Guimarães Rosa : “ a coisa não está nem na partida nem na chegada; está é na travessia”. Não existe prazer maior do que sentar próximo a uma mata de buritis e ouvir a orquestra produzida pelo vento em suas folhas, acompanhada do som de inúmeros pássaros e insetos. Quer beleza maior do que o grande espetáculo produzido pela natureza? Para qualquer lugar que olho, a natureza me fascina e me comove. Para mim, é principalmente através desse grande espetáculo que Deus se manifesta. A sabedoria e a grandeza de Deus está contida em cada detalhe da natureza, quer na disciplina da formiga, no destemor dos gafanhotos, na infinitude do céu ou no horizonte da extensão do mar. Ah o mar! Sinto a espuma e a areia acariciando meus pés! Chuá...chuá! La vem a onda!
* Psicólogo,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado aposentado - Instit. de Psicologia-UFU-Email: cvital@mailcity.com Tel.034-9158-9012

domingo, 22 de janeiro de 2012

França mantém proibição de milho transgênico


Uso do MON 810 da Monsanto está suspenso desde 2008.

O governo francês informou nesta sexta, dia 13, que a proibição de safras de milho geneticamente modificadas será mantida em 2012 – apesar da decisão de uma corte superior ordenando a suspensão da medida.

Desde fevereiro de 2008, o uso da variedade de milho MON 810 da companhia norte-americana de biotecnologia Monsanto foi proibido pelo governo francês em virtude dos riscos à saúde e ao meio ambiente.

No final de novembro, a corte administrativa do Conselho de Estado ordenou que a decisão fosse revogada, depois de julgar um processo aberto pela Monsanto e outras empresas que se opõem à proibição da variedade de milho MON 810 pelo Ministério de Agricultura da França.

Fonte: Ruralbr, 03/01/2012.


A legislação atual obriga os produtos transgênicos a ser identificados com um selo característico. A Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados – ABRANGE considera essa medida insuficiente. Por isso, lançará ainda neste ano um selo específico para os alimentos livres de transgênicos. A marca poderá ser usada por derivados de soja e milho convencionais, como óleos, e por carnes de frangos e porcos alimentados por eles.

Fonte: Revista Época, 16/01/2012. Retirado do Blog Paraná do Sul - companheiro Anderson Gibathe.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mercado sem desenvolvimento: a causa da crise


Artigo inédito de Karl Marx

O texto abaixo é um dos achados do projeto Mega – Marx-Engels Gesamt Ausgabe, que, a partir dos arquivos de Karl Marx, está organizando a sua imensa obra ainda inédita: 114 volumes, o último dos quais será publicado em 2020.

Para entender em que mundo vivemos e viveremos, este artigo jamais lido do Capital, parece ter sido escrito hoje.

O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 08-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto.

"A enorme quantidade e variedade de mercadorias disponíveis no mercado não dependem apenas da quantidade e da variedade de produtos, mas são, em parte, determinadas pela entidade da parte de produtos produzidos como mercadorias, que deverão, portanto, ser inseridos no mercado para a venda na qualidade de mercadorias.

A grandeza dessa parte das mercadorias vai depender, por sua vez, do grau de desenvolvimento do modo de produção capitalista que produz os seus próprios produtos apenas como mercadorias, e do grau em que tal modo de produção domina em todas as esferas da produção.

Deriva daí um grande desequilíbrio no intercâmbio entre países capitalistas desenvolvidos, como a Inglaterra, por exemplo, e países como a Índia ou a China. Esse desequilíbrio é uma das causas da crise.

Causa totalmente negligenciada pelos burros que se contentam em estudar a fase do intercâmbio de um produto por outro produto e que esquecem que o produto não é, portanto, em caso algum, mercadoria intercambiável enquanto tal. Isso constitui também a pedra no sapato que leva os ingleses, dentre outros, a querer subverter o modo de produção tradicional existente na China, na Índia etc., para transformá-lo em uma produção de mercadorias e, em particular, em uma produção baseada na divisão internacional do trabalho (ou seja, na forma de produção capitalista).

Eles conseguem, em parte, esse intento, por exemplo, quando prejudicam os fiadores de lã ou de algodão vendendo seus produtos a um preço inferior ou arruinar o seu modo de produção tradicional, que não é capaz de competir com o modo de produção capitalista ou com o modo capitalista de inserir as mercadorias no mercado.

Embora o capital produtivo, por sua própria natureza, esteja disponível no mercado, isto é, oferecido à venda, o capitalista pode (por um período de tempo longo ou curto, de acordo com a natureza das mercadorias) mantê-lo longe do mercado se as condições não lhe forem favoráveis ou com o fim de especular, ou outro. O capitalista pode subtrair o capital produtivo do mercado das mercadorias, mas, em um momento posterior, será obrigado a reinseri-lo. Isso não tem efeitos sobre a definição do conceito, mas é importante para a observação da concorrência.

A esfera da circulação das mercadorias, o mercado, é, enquanto tal, diferente também fisicamente da esfera da produção, exatamente como são diferentes temporalmente o processo de circulação e o efetivo processo de produção. As mercadorias agora prontas ficam depositadas nos armazéns e nos depósitos dos capitalistas que as produziram (exceto no caso de serem vendidas diretamente), quase sempre só de modo passageiro, antes de serem expedidas para outros mercados.

Para as mercadorias, trata-se de uma estação de preparação a partir da qual serão inseridas na efetiva esfera de circulação, exatamente como os fatores da produção disponíveis permanecem à espera, em uma fase preparatória, antes de serem transportados para o efetivo processo de produção.

A distância física entre os mercados (considerados do ponto de vista da sua localização) e o lugar do processo de produção das mercadorias dentro de um mesmo país, e sucessivamente fora dele, constitui um elemento importante, porque é justamente a produção capitalista que faz com que, para uma boa parte dos seus produtos, o mercado seja constituído pelo mercado mundial. (As mercadorias também podem ser adquiridas para serem retiradas imediatamente do mercado, mas esse elemento deveria ser examinado em outros lugares, assim como a menção anterior às mercadorias que os produtores mantêm longe do mercado).

Consequentemente, é preciso que o mercado se expanda continuamente. Além disso, em todas as esferas individuais da produção, todo capitalista produz de acordo com o capital que lhe é oferecido, independentemente do que fizerem os outros capitalistas. No entanto, não será o seu produto, mas sim o produto total do capital investido nessa particular esfera de produção que irá constituir o capital produtivo, que oferece à venda esta e qualquer outra esfera individual de produção.

É um dado empírico que, embora a dilatação da produção capitalista leve a um incremento, a uma multiplicação do número de esferas de produção, ou seja, de esferas de investimento do capital, nos países de produção capitalista avançada, essa variação jamais mantêm o mesmo ritmo que o acúmulo do próprio capital".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A chuva retorna a Candói e Região - PR

Fantástica esta imagem cedida pela Sonya 
Segundo dados do Instituto Tecnológico SIMEPAR as precipitações ocorridas em dezembro de 2011 correspondem a pouco mais de um terço da quantidade de chuva que comumente cai nesta época do ano em nossa região, seguindo a tendência de estiagem que ocorreu em todos os Estados do Sul do Brasil.

Porém hoje começaram cair algumas gotas de chuva aqui acolá... Depois foi mais forte um pouco... E finalmente depois do meio dia houve garoa intermitente. O solo estava ressecado, "deserto e árido, pedindo chuva", as plantas sofrendo e com certeza os cultivos da Agricultura estavam sofrendo e decaindo em qualidade e produção (não só porque ouvimos falar sobre, mas pela própria lógica dos períodos de seca). E o ar ficou mais fresco, mais respirável... As previsões dão conta de que nos próximos dias haverá nuvens, precipitações... Oxalá continue, mesmo que de forma lenta, pois nossa Terra parece uma fornalha que não tem como segurar a umidade, a água, as fontes, os lagos, os rios... 

Esta imagem de árvores decepadas não dizem nada? (RS)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Visita ao Colégio e saudades...



Estive no Colégio Estadual Santa Clara (CESTAC) dando uns tratos culturais no Herbário Vivo e pensei o que um amigo educador falou em tom de brincadeira: "A escola é maravilhosa! Ruim são os alunos..." Kkkkkkkkkkkkkkkkk!!!

Pensei sobre o que poderia significar "alunos" que seriam "ruins"? Ruins são aqueles/as que vem para a escola apenas para brincar, farrear, incomodar os/as colegas, atrapalhar os/as Educadores/as, que não tem foco no Estudo e na aprendizagem, que não têm consciência da necessidade da Ciência e do desenvolvimento científico, que brigam, destroem e trazem uma série de problemas de fora da escola, chegam à escola porque sua família não os quer em casa ou porque a escola é apenas o ponto de encontro... Pensei em traduzir este "ruim" ou "ruins" para não sobrar para o meu juízo! Hehehe...