sábado, 26 de fevereiro de 2011

COLETIVIDADE X COLETIVISMO

            Se faz muita confusão entre os vocábulos "PESSOAL, COLETIVO, INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO", isto quando não se confunde os seus significados, fazendo-se a maior "salada de frutas". De qualquer modo partamos do pressuposto de que falamos da pessoa humana e da sociedade, enquanto coletividade. De certa maneira estamos tratando do bem pessoal e do bem comum. O bem pessoal não pode contraditar o bem comum. E o bem comum seria a soma dos bens pessoais e, portanto, teria mais força.
          As ciências humanas e sociais já tratam destas questões a muito tempo. A História, por exemplo, discorre sobre a vida humana, a pessoa, no tempo e no espaço, e e sobre o coletivo correspondente, a sociedade ou as diferentes sociedades humanas, os processos de evolução e transformação pessoal e das coletividades. A Geografia analisa como as sociedades humanas desenvolvem o processo de ocupação, modificação e transformação dos espaços do Planeta Terra. Como são utilizados os recursos naturais, como são apropriados por um grupo ou outro em prejuízo de terceiros. Estuda ainda como a interferência das pessoas e das sociedades pode desencadear transformações tão predatórias que chegam a modificar não apenas o relevo, a flora e a fauna, mas o ar, o clima, a hidrografia e a saúde ambiental do Planeta Terra. A Psicologia discorre sobre o comportamento da pessoa e dos coletivos humanos. O conjunto das características pessoais predominantes de um povo que determina o comportamento dos grupos sociais ou das coletividades, as sociedades. A Sociologia estuda os grupos sociais, as divisões da coletividade em castas, estamentos e classes sociais e a sua dinâmica, a sua mobilidade, a passagem de uma "condição social" de mais pobre para rico ou vice versa.

          Feito este rascunho científico, imediatamente podemos afirmar que da vida humana pessoal, das sociedades ou das coletividades, dependendo de suas consciências, de suas atitudes ou comportamentos, do seu grau de organização social, política, econômica, cultural, ambiental, resultam benefícios, prejuízos ou desastres que atingem toda a coletividade humana, seja eu como pessoa  culpado ou não! Mas as consequências dos meus atos, das atitudes ou dos comportamentos do meus semelhantes, podem atingir toda a sociedade humana em dimensão planetária.

          Daí porque não conseguimos entender a insistência de "estudiosos" que teimam em fazer guerra contra a ideia e a realidade de que formamos um coletivo humano e de que somos todos interdependentes. E para negar esta realidade determinados sofistas hodiernos ("estudiosos") utilizam-se das piores falácias para desviar a atenção do que temos levantado e afirmado anteriormente. Eles têm medo de palavras como coletividade, coletivo, porque elas nos remetem à memória do chamado "socialismo real" (que supostamente desmoronou ao final dos anos 80, especialmente no leste europeu). De fato, aqueles regimes prescindiram da chamada democracia, das liberdades de expressão, de participação, das decisões pessoal e coletiva e o povo vivia sob pesado burocratismo estatal. Grupos empoderados se sobrepuseram a tudo e a todos... E o descontentamento das populações foi incomensurável.

          De forma alguma negamos a dimensão pessoal, do indivíduo, mas ela absolutamente não pode sobrepor-se aos ditames das necessidades ou das demandas coletivas, visto que o tempo, o espaço e os recursos são os mesmos e deveriam ser comum a toda a humanidade. Logo, em nosso entendimento, os defensores do individualismo absoluto pretendem justificar as desigualdades sociais, as ações ou projetos de indivíduos ou de pequenos grupos dominantes, que assenhoram-se de tudo para eles, somente, e a maioria que se dane, que se arrebente, que se vire e "salve-se quem puder!" Aliás, o dicionário online de português explica: "a coletividade é a essência da sociedade. Conjunto de seres que constituem corpo coletivo; comunidade: as coletividades não procedem como os indivíduos".         

         Consequentemente muitas são as doutrinas, as teorias, as ideologias que defendem ferrenhamente o individualismo em detrimento da visão, da necessidade e das demandas da coletividade. Dai vem o liberalismo, que comumente o povo faz gozação dizendo "liberou geral", mas que se formos estudar perceberemos que é um conjunto de doutrinas econômicas e políticas que prevê a liberdade para poucos, do tipo, "quem pode mais chora menos!" Do mesmo modo o neoliberalismo, na segunda metade do século XX, seguindo o liberalismo clássico dos séculos anteriores, prega a necessidade do "estado mínimo" para que grupos dominantes possam se expandir indeterminadamente, sem limites ou peia alguma. E para acalmar os ânimos da maioria da população, dos pobres, dos miseráveis, dos excluídos da sociedade (dos que não não são nada!) defendem as "políticas de compensação" ou "compensatórias". Isto é, já que o mundo tem que se organizar do ponto de vista da "livre iniciativa", da "livre concorrência", da competição, do individualismo... o Estado deixaria de ser a instituição  com a função de organizar a vida em sociedade, de regulamentar os espaços e as diferentes dimensões sociais... De cobrar impostos e aplicá-los de forma a beneficiar toda a coletividade com políticas, serviços e obras públicas. E, consequentemente, o mundo do neoliberalismo, é a proposta da instituição da barbárie ou da ditadura da economia, já que a economia estaria livre de entraves estatais e poderia fazer o que quisesse e como bem entendesse.
 
          Por conta do "estado mínimo" e das "políticas compensatórias", preconizadas pelo neoliberalismo, é que se instituiu o "seguro desemprego", as "bolsas famílias" (que já tiveram diferentes nomenclaturas), o "leite das crianças" e até a "merenda escolar" (creio eu), dentre outras. E mais, "outra faceta específica da política neoliberal também atinge diretamente a relação de gastos que o Estado mantém com as necessidades essenciais da sociedade civil. De acordo com tal teoria, os gastos públicos do governo neoliberal com educação, previdência social e outras ações de cunho assistencial devem ser reduzidas ao máximo. Caso essas demandas se ampliassem, o próprio desenvolvimento da economia proveria meios para que a sociedade civil resolvesse tais questões" (BrEscola).

         Rumando para algumas considerações finais, gostaria de, provisoriamente, fazer algumas afirmações e questionamentos. Antes de tudo afirmar que alguns dos ismos históricos trouxeram grandes danos à coletividade humana e à sua base planetária. Pergunto: os países que primam sua organização pelo individualismo ou, para ser mais polido, pelo valor da pessoa, (como os EUA, a Inglaterra, a Suiça, a Alemanha, a França, a Itália, dentre outros) resolveram os problemas da fome, do analfabetismo, do trabalho (ou do sesemprego), da renda, da moradia, da violência, da exclusão, do descontentamento e da infelicidade humana? E se o conseguiram, que mecanismos utilizaram? Não lançaram mão da exploração ou extermínio de outros continentes (África, América, Ásia) e de suas populações (genocídio das coletividades)? O modelo da "sociedade desenvolvimentista" (baseada no modo capitalista de produção),  que prima pelo individualismo, tem provado que o Planeta Terra segue para a insustentabilidade, para o fim da biodiversidade e  a para a autodestruição. Há uma urgência - sem negar as conquistas das ciências e as tamanhas burradas cometidas (por quem faz uso das descobertas e tecnologias, nem sempre utilizadas para fins de contribuir com toda a humanidade, mas para dominar, destruir, concentrar riquezas) - de desacelerarmos tanto a nível pessoal quanto da coletividade, repensarmos o que estamos fazendo neste pequeníssimo planeta "perdido no universo" (me desculpem a expressão, mas somos um montículo de pó diante da grandiosidade universal) e definirmos uma nova civilização humana planetária, que a bem da verdade já está em curso (e para justificar esta necessidade tem um cem número de teóricos estudando e produzindo conhecimento sobre esta temática) ou arcaremos com as consequências de processo individualista, excludente e autodestrutivo!

2 comentários:

Prof.(a) Rose Mari disse...

Camarada Sergio,

Sempre ouvi a brincadeira de que Marx deveria ter conversado com Freud mais o Manifesto Comunista foi escrito em 1848 e Freud nasceu em 1856. Acredito que tem aspectos culturais, religiosos e subjetivos do ser humano que só a mudança da estrutura econômica da sociedade não vai dar conta. Mais também defendo que outro mundo é possível e apenas uma distribuição de renda mais igualitária poderá levar o ser humano a questionar estes aspectos. Uma humanidade com suas necessidades básicas sendo garantida podem refletir sobre estes aspectos. Sobre temas mais coletivos, como: meio ambiente, saúde, educação, etc. Por isso as políticas públicas que possibilitem este avanço no Estado Brasileiro têm a minha defesa. Reforma Neoliberal poder ate ser deste que seja uma estratégia para se chegar ao socialismo. É este rumo que não podemos perder. Uma via mais lenta, talvez, mais a conjuntura nos possibilita isto.

Profa. Rose Mari

SERGIO BUCCO disse...

Querida amiga Rose!
Que bom que tu entraste na reflexão! Muito luminosas as tuas observações, tua leitura, tua linha de pensamento!
Obrigado!
Abjçs!
Sergio Bucco