segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CANDÓI E AS USINAS HIDRELÉTRICAS

          Candói é um dos municípios campeões em número de Usinas Hidrelétricas (UHs) em seus rios ou lagos originados por conta das UHs. Em seus limites, ou nos rios que margeiam o município, temos a UH de Salto Santiago, no R. Iguaçu (construída entre os anos 70 e 80), da qual nos "beneficiamos" com o lago. Temos a UH do R. Cavernoso (a mais antiga). Recentemente (final de século XX e primeira década do séc. XXI) foram construídas as duas UHs de Santa Clara e Fundão, no Rio Jordão. E nos últimos anos foi inaugurada a segunda no Rio Cavernoso, a PCH Cavernoso II, a poucos metros da antiga. O processo de construção das UHs gerou frentes de trabalho temporário, que atendeu parcialmente à mão de obra ociosa ou àqueles trabalhadores que procuravam formas de trabalho mais rentáveis e dignas. Concomitantemente ao desenvolvimento das obras houve um incremente à economia local.
          A energia elétrica é um dos resultados das UHs que atende às demandas de energia para a iluminação domésticas, para mover as máquinas e as indústrias mais diversas... e até automóveis. É uma energia limpa. Porém para implantar uma hidrelétrica é preciso acabar com biomas, ao se destruir áreas de florestas, exterminar a fauna, a biodiversidade, trazer impactos e modificações do clima da região, afetada pelos lagos e espelho d'água deles decorrentes, expulsar os camponeses, os povos e as comunidades tradicionais de suas áreas de ocupações históricas, empurrando-os para as cidades ou situações muitas vezes em nada parecidas com as originais, destruir áreas de cultivos agrícolas ou de criação animal.
          Mas levantadas estas questões a favor e contra, nos perguntamos: em que aspectos o Município de Candói é beneficiado? Temos uma tarifa muito alta cobrada pela energia, seja para o consumo doméstico, seja para o comércio e a indústria. Durante o "boom" das construções de UHs a economia local se fortalece, as escolas superlotam de crianças, os casos de violência aumentam e, ao final, meninas/moças ficam grávidas e filhos ficam sem saber quem são seus pais. E cabe a questão: que projetos de compensação foram ou estão sendo implantados no Município de Candói para minimizar os impactos ambientais, sociais e culturais resultantes da construção das UHs? O Parque Santa Clara era pra ser revitalizado ou, emfim, implantado na área da Estância Hidromineral Santa Clara e entorno das duas UHs do Rio Jordão, mas não avançou para além do papel, folders e discurso "para inglês ver e ouvir"! A Estância Hidromineral Santa Clara (ao tempo do Hotel Candeias, não fosse um contrato mal feito entre Governo do PR...) era conhecida no PR, em muitas regiões do BR e até no exterior. E hoje o que temos ali? Um rico e potencial espaço de lazer, Educação Ambiental, em estado de abandono, em deteriorização, caindo literalmente os pedaços! E por que à época da construção das UHs, nos anos 70, os governos e instituições governamentais não se planejaram para colocar o Código Florestal Brasileiro (1965), um dos mais perfeitos do mundo, na ordem do dia e na execução dos projetos e reservas legais permanentes, que adviriam das novas UHs? A poucos anos começou uma pressão sem tamanho sobre os ribeirinhos que ocupam as áreas do entorno dos lagos das UHs para que preservem, recomponham, etc. Mas eles não têm que pagar o preço pela incompetência e falta de visão dos governantes! Ah, seria por isso, então, por exemplo, que se está promovendo a destruição do originário Código Florestal Brasileiro e a criação de um "novo código florestal", a fim de minimizar responsabilidades e colocar em risco e destruição do pouco que sobra de APPs e ARLs, encostas íngremes, fundos de vale, nascentes, pântanos, dentre outros? Eis os benefícios e os prejuízos das UHs de Candói! 

Um comentário:

Gelson K. Costa disse...

De fato, uma excelente análise!