terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A NUCLEARIZAÇÃO DAS ESCOLAS EM CANDÓI III: RESULTADOS

          Como já afirmamos anteriormente, foram fechadas mais de 50 escolas do campo (as chamadas Escolas Rurais Municipais) em Candói, entre 1995 e 2000. Em seu lugar foram mantidos cinco núcleos escolares para onde se concentraram todos os alunos do município. E algumas justificativas para tal ação, feita à revelia da vontade soberana do povo, estavam relacionadas a “professoras que não trabalhavam direito”, isto é, lecionavam parte da semana e no restante não apareciam na escola; se disse que as professoras não estavam preparadas (capacitadas), que elas eram leigas, então teria que trazê-las para a cidade para dar-lhes curso de capacitação; se afirmou que as professoras teriam que dar conta de lecionar (“dar aula”), que enquanto elas lecionavam para uma série as demais ficavam ociosas (o que é contestado por entrevistados que estudaram em “escolas multisseriadas”, como eu, por exemplo); que elas tinham ainda que cuidar da merenda, da limpeza e de tantos assuntos quanto mais houvessem para resolver.
          Perguntamos-nos: mediante que condições aquelas crianças foram arrancadas do convívio de suas famílias, da professora que conheciam, com quem conviviam e confiavam; de sua comunidade, de sua realidade, de seu contexto geográfico, histórico, cultural, material?  
          Segundo pesquisa realizada com as mães, os pais, as educadoras, membros de algumas instituições e das comunidades, todos foram unânimes em afirmar que as condições não eram nada boas, inclusive eram de grandes riscos. As estradas em sua maioria estavam em péssimas condições. Os ônibus do transporte escolar eram umas “latas velhas” perigosas e muitas vezes estragavam. Tinham que sair de casa pela madrugada (por vezes levadas pela família até os locais por onde transitavam os ônibus) e retornavam horas depois do almoço. Quando chovia o transporte encalhava, não chegava a seus destinos e as crianças ficavam muitos dias sem escola e sem estudar. Como parte das educadoras necessitava do transporte escolar, quando chovia estas ficavam em situação muito difícil, pois algumas vezes tinham que ficar nos núcleos em condições arranjadas, abandonar suas casas, maridos, filhos, ou até faltar às escolas. Por vezes os estudantes e as mestras tinham que andar quilômetros a pé, no barro ou abaixo de chuva, à noite.
          As escolas não apresentavam estruturas adequadas para acomodar as crianças e as turmas ficaram muitas vezes em salas improvisadas, em barracões, cada uma em um canto, sob calor, barulheira desgastante e estressante, onde o trabalho de uma atrapalhava o da outra. As professoras chegaram a afirmar que os alunos perderam a ligação com as educadoras, se tornaram número, sem o necessário atendimento personalizado que lhes era dispensado nas “escolas multisseriadas”, perderam a confiança que tinham em relação à escola, em muitos casos se tornaram descompromissados com o processo pedagógico, as mães, os pais e a comunidade se afastaram da escola (já que a escola fora afastada delas por 10, 20, 30...60 ou mais quilômetros).
         Este retrato da nuclearização mostrou como resultado imediato um grande prejuízo para o desempenho escolar dos estudantes, para as professoras, para as famílias e uma grande lacuna para as comunidades. A História está sendo rememorada para não cair no esquecimento das gerações presentes e futuras e não há nada que possa lhe apagar, nem mesmo o aparente progresso que ora se apresenta no município!
(Continua parte IV).
Publicado inicialmente no Jornal Vale do Iguaçu, Candói, 23.02.11, nº. 21

Nenhum comentário: