terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A NUCLEARIZAÇÃO DAS ESCOLAS EM CANDÓI II: JUSTIFICATIVAS

Uma das Escola Rurais que foram fechadas em Candói.
           Um dos motivos que justifica esta temática e respectiva pesquisa é justamente a ausência de investigação sobre o Processo de Nuclearização (PN) em Candói. Apesar de que encontramos duas pesquisadoras com duas pesquisas monográficas que tratam da temática e do processo da Nuclearização no Município de Candói e às quais, no entanto, não tivemos acesso, e que versam sobre o assunto de modo apologético (segundo foi me repassado pelas mesmas), a partir de seus espaços profissionais, diretamente ligados à Secretaria Municipal de Educação e/ou à Administração Municipal. No entanto existe um diferencial entre aquelas pesquisas e a nossa. As primeiras foram realizadas a partir do centro do poder municipal, como defesa do processo em si, sem uma preocupação em pensar ou avaliar outros aspectos. E outra observação pertinente é de que elas olharam pelo viés da escola burguesa, secularmente montada, excludente, preconceituosa, a serviço de dois contextos bem definidos e casados em comunhão de bens: o urbano e o capital. De nossa vez, procuramos investigar e fazer nossa sistematização pelo lugar social e o olhar do campo, de suas riquezas culturais, materiais, políticas e de suas demandas por serem reconhecidas e valorizadas.
          A realização desta pesquisa encontra razão de ser na necessidade de se entender todo o Processo de Nuclearização (PN) que houve em Candói (no contexto brasileiro neoliberal dos anos 90), os interesses políticos, a pressão econômica e as decorrências na vida de todos os sujeitos/coletivos envolvidos (educandos e educadores, mães, pais, campo e cidade).
Outra Escola Rural Municipal que fora fechada
por conta da nuclearização.
          E o interesse pessoal desta busca de entendimento vem do instante em que se iniciou o PN em Candói, quando contávamos com 12 anos de vivência como educador. Levamos em conta não somente a experiência profissional com a educação, mas também nossas experiências no contexto comunitário como morador da região desde a idade infantil. Uma das premissas foi a memória histórica das “escolas rurais” em que estudei na infância (até a 4ª série). Avaliei que aquelas escolas rurais poderiam não ter um currículo e/ou matérias que versassem sobre o contexto do campo, sua vida, sua produção, sua cultura, seus anseios, seus desafios e seus projetos. Eram espaços educacionais sem grandes concentrações (ou como dizem as professoras, 'superlotação') de crianças. Mas eram muito agradáveis para se estudar, mesmo que fossem multisseriadas, aprendíamos todos juntos. E, para todos os efeitos, era o que de mais palpável a comunidade possuía, com o que ela se envolvia e onde ela se nutria. Inclusive a professora morava na comunidade. Exercia uma liderança natural e as pessoas confiavam nela e participavam do cotidiano escolar.
          De repente, impositivamente, a escola foi fechada e a comunidade não foi consultada. As educadoras foram levadas para núcleos urbanos bem como os/as educandos/as. E as comunidades perderam sua maior referência, quiçá sua identidade. Iniciava-se assim o Processo de Nuclearização no município de Candói.
          Até o presente apenas soubemos de manifestações e protestos coletivos ou isolados, mas sempre abafados ou ignorados pelo poder público municipal, gestor do processo em nível local, atendendo à política do Ministério da Educação (MEC), financiada pelo Banco Mundial, com apoio inconteste do então governador do Estado do Paraná, o senhor Jaime Lerner.
          Partindo do contexto acima retratado, cabe a pergunta central desta pesquisa: Como ocorreu historicamente o processo de nuclearização de escolas no Município de Candói e quais as suas decorrências comunitárias? (Continua parte 3).
Artigo publicado no Jornal Vale do Iguaçu, Candói, 08/02/11.

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