sábado, 19 de fevereiro de 2011

A ESCOLA ENQUANTO ESPAÇO PEDAGÓGICO


Meu desenho do logotipo do CESTAC (provisório).

        
         O CESTAC (Colégio Estadual Santa Clara), em Candói/PR, depois de quase 10 anos de luta da Comunidade Escolar (diga-se: direções, educadores, agentes educacionais, mães, pais, estudantes, APMFs - voluntariamente), NRE de Guarapuava e o dedinho de alguns políticos profissionais (que não fizeram nada mais que suas obrigações, pois pagamos-lhes muito bem para isto!), conseguiu não apenas ampliar significativamente seu prédio, mas reformar e modernizar tudo. Ficou, do ponto de vista estético, muito bonito. A estrutura é contemporânea. A parte nova tem até elevador (especialmente para pessoas com necessidades especiais).
          Entretanto, nos deparamos com alguns entraves desumanizantes e antipedagógicos. Dir-me-ão que não me contento com nada e que não sou pedagogo. Ora! Tenho apenas 29 anos de experiência educacional, em uma evolução de professor até ser o educador que hoje sou (mas sempre em processo de ser) e mais um tanto de convivência com educadores, gestores de escolas, estudos e pesquisas permanentes dentro da área. Se isto não me desse um mínimo de baliza para analisar a realidade e o contexto da escola, então eu estaria em lugar errado!
         Pois bem! A primeira coisa que percebemos (e ainda na fase de obra tentamos interferir, mesmo que ali não estávamos trabalhando) é a impermeabilização de praticamente 90% do pátio (solo). São milhares de metros cúbicos de água da chuva que correm por calhas, canos, canaletas... e seguem para os lugares mais baixos até o rio! Consequentemente, o pátio ficou desnudo de vegetais, de flores, de árvores, de vida. Exceto algumas árvores antigas e algumas pequenas áreas nas duas principais entradas que, esmeradamente, tem sido pensadas pelas diretoras do CESTAC para dar um ar de vitalidade na recepção de quem chega. Em decorrência disto o pátio também ficou muito cheio de construções, concreto por todo o lado, sem áreas livres para se realizar aulas, estudos, pesquisas peripatéticas (do grego περιπατητικός), uma vez que além do espaço diminuto, quando tem sol não tem sombras refrescantes para se ficar. E, finalmente, o desenho do conjunto CESTAC é um mau exemplo de contribuição para o chamado efeito estufa... Portanto, as crianças, os adolescentes, os jovens que frequentam o CESTAC para estudar, têm que ficar restritos às quatro paredes da sala de aula (ou de estudos). O CESTAC, pelo tamanho de escola que é, teria que ter pelo menos um auditório para determinadas atividades pedagógicas (como performances, exercícios especiais, teatro, canto, música, etc) e eventos escolares. Mas os tecnocratas (políticos e engenheiros) comumente não costumam lecionar, ministrar aulas em salas abarrotadas de crianças e jovens, onde muitas vezes quase não podemos andar pelo meio da turma ou não conseguimos nos achegarmos a cada um/a para olhar seus cadernos ou atender-lhes em suas necessidades.
         Nós educadores temos que ter vocação, capacitação, formação adequada e continuada, estarmos atualizados, sempre estudarmos, lermos, pesquisarmos, escrevermos... Mas temos que ser humanos, antes de tudo, porque trabalhamos com seres humanos que chegam à escola provindos das mais diversas situações, com as mais diferentes dificuldades, com problemas não resolvidos, como pobresa, carências, traumas, conceitos e preconceitos, frutos de diferentes formas de violência, inclusive a violência institucionalizada. Este é o nosso campo! Não estamos lidando com "tabulas rasas" nem com um coletivo uniforme e com alto padrão de vida. Pelo menos não no Município de Candói!
          E neste contexto exposto, além da cidade propriamente dita (suas ruas, seus cantos e recantos), poderemos contar em um futuro próximo com o Parque dos Votorões (a menos de 100 m do CESTAC), suas trilhas, seu bioma formado pela floresta de araucárias centenárias (e muitas outras espécies), aves, alguns animais, suas nascentes e riachos, suas instalações na entrada do parque (salas para estudo, educação ambiental, projeções, cursos, dentre outros). Se tivermos ônibus à disposição poderemos fazer visitas de estudo, de pesquisa, participarmos de eventos educacionais fora da escola e até do município. Mas estas possibilidades ainda fazem parte apenas da esperança... Estamos fazendo e ainda vamos fazer a nossa parte juntamente com companheir@s de boa vontade para tornar este espaço mais humanizado e ambientalmente saudável!
         A música FLORES MORTAS (Leno) poderia ser uma das ilustrações deste quadro  aqui pintado:
No lugar onde em criança,
Eu brincava e sonhava.
Hoje tudo é feio e triste,
Nada existe prá sonhar,
Porque, porque, eu não sei.

No lugar daquela arvore
Onde escrevi seu nome
Corre agora uma avenida
Por onde você se foi.
Porque, porque,
Porque, o amor se esconde
Entre a fumaça e ninguém ve.
E pouco a pouco as flores
Deixam de nascer.

A ambição faz com que esqueça,
Quanto vale a natureza.
É de asfalto e de concreto,
Que eles plantam o seu jardim.
Ver vídeo.

2 comentários:

lucy disse...

Caro Sérgio, desde o início comentei a respeito de tanto concreto no colégio...tivemos uma experiência no Rio de Janeiro a esse respeito... meus filhos estudaram no Colégio Dom Helder Câmara (atual Faculdades Universo), e ele foi totalmente concretado... os alunos tornaram-se agressivos... após algum tempo e sendo orientada por especialistas a diretora e dona, resolveu fazer um lago, um jardim com bancos, tornado o local bem aprazível... as coisas melhoraram bastante...
Embora tenhamos aqui locais belíssimos para nos deleitarmos, isso não justifica um ambiente q mais e asemelha a uma prisão...q isso possa ser revisto a tempo...
bjs...
Cy

SERGIO BUCCO disse...

Cara e venerável amiga!
Muito ilustrativa estas tuas observações e exemplos. É óbvio que a nossa realidade comparanda a grandes centros como o RJ é muito diferente, mas de qualquer modo o respeito à Natureza e o retorno ao Meio Ambiente originário (no que é possível recuperá-lo) pode ajudar muito no processo de humanização das pessoas e pessoainhas.
Mais uma vez digo: Valeu muito! Abjçs!!!