quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ENTRE A VAIDADE E O COMPROMISSO

          O rei Salomão, considerado um dos mais sábios homens governantes da antiguidade, a certa altura de sua existência chegou a determinadas considerações sobre a vida e o que fazemos dela. Suas observações ficaram registradas no belo livro de Eclesiastes. Disse: "Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade" (Ec 1.2). "Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol" (Ec 2.11).
          Conversava com uma senhora amiga, retornando de mudança para Candói, que afirmou: “Eu descobri que a gente pode viver com bem pouco”. Esta é mais uma manifestação da sabedoria que às vezes buscamos, outras vezes somos impelidos a abraçar, pois as circunstâncias nos impulsionam a aprender. Ou como afirma o dito popular: “A dor ensina nos gemer”. Nesta ocasião me somei a estas personagens fazendo observações semelhantes. Pois, afirmava eu, buscamos estabilidade emocional, espiritual, material, cultural, social, ambiental... E por ai segue. Mas por vezes exageramos na dose, pois não precisamos nos cercar de tudo o que o mundo nos oferece, ou não vale a pena gastarmos tanto de nossa vida atrás de coisas, posição social, status, fama, poder, riquezas e similares. Pois, como o sábio Salomão, corremos o risco de chegarmos ao entendimento de que as obras de nossas mãos e o nosso trabalho, tudo é vaidade e correr atrás do vento, sem nenhum proveito.
          Escrever, a propósito, pode ser um mero exercício de vaidade, assim como pode ser uma ferramenta de informação, de conscientização, de formação ou de comunicação. Porém, fazendo minha própria defesa (e quem não faria?), escrevo no meu diário, nos blogs de minha responsabilidade e na interação com as pessoas, nos e-mails, dentre outros espaços online, porque entendo como um compromisso com a vida, com a minha própria consciência, como extensão do exercício da Cidadania, da Democracia, da Política, da Cultura Planetária. Para expor ao público as minhas simples reflexões tive que fazer um exercício de superação, pois ao final da década de 80 eu avaliava como havia tanta produção literária, dita científica, dentre outras, que eram meros ‘borrões’ no papel, que não acrescentavam quase nada, enrolavam e tinha a finalidade apenas de ganhar dinheiro. Aliás, como foi a tendência mais e mais agravada nos últimos tempos de globalização e liberalismo econômico, pela linha do “negócio”, do mercadejar, do mercado, que é a característica base e fundante do capitalismo. Porque no sistema capitalista, se um indivíduo vê possibilidade de aumentar seus cifrões negociando a sua própria mãe, então vai e a vende!
          Nesta perspectiva de raciocínio é que aceitamos o convite para rabiscar no papel algumas reflexões do nosso cotidiano, sobre o nosso País, a respeito de nosso Planeta Terra, na intenção de contribuir de forma despretensiosa com nossos semelhantes, com o nosso meio, com a humanidade. Sempre com a tensão e a urgência de que qualquer transformação para ser eficaz, verdadeira, duradoura tem que começar em nosso interior, em nossa casa, em nosso lugar! De modo que em tudo o que buscamos ou em tudo o que fazemos, deveríamos nos perguntar: 'Isto que almejo ou que estou realizando é alguma forma de compromisso vital, social, ambiental, com o bem comum, ou é apenas vaidade pessoal, palha e vento?'

Sergio Bucco - Coluna do Jornal Vale do Iguaçu, 08.12.10 - Candói - PR


Um comentário:

Adriano Araujo do Amaral disse...

"Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol" (Ec 2.11).
Estou me defrontando com o mesmo questionamento e, pior, não apresento sinal nem vontade de mudar. Minha vida esta carregada de um axacerbado cientificismo, como no ideal de Francis Bacon "A casa de Salomão" em um mundo chamado "Nova Atlântida". Será que estou sendo pego pela vontade do capital? Acho que nem tanto, prefiro acreditar naquilo que Nietsche chama de "vontade de potência". Vou deixando as coisas acontecerem pois, não vou sair por ai com um discursso mesquinho e barato de que estou lutando por um mundo melhor e que estou usando do pouco que sei para tal propósito. Espero um dia estar preparado o suficiente para isso. Talvez ja esteja fazendo algo e nem percebi. Sei lá. O fato é que é importante (re)conhecer nossa condição né????
Abraço professor!