sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A NUCLEARIZAÇÃO DAS ESCOLAS EM CANDÓI I: Introdução

          Em 2007, quando fazíamos uma Especialização em Educação do Campo (através da UFPR), ao participarmos do processo de escolha de um tema de pesquisa, procuramos fazê-lo de modo que contribuíssemos com a sociedade, e especialmente com o povo do campo, em afinidade com o que propunha a especialização em Educação do Campo. Escolhemos então o 'Processo de Nuclearização das Escolas' como nosso foco de pesquisa e as decorrências comunitárias em Candói. Procuramos embasar nossa pesquisa e análise dos dados levantados a partir do Materialismo Histórico Dialético e assim referenciamos com fontes bibliográficas, o quanto possível, na perspectiva marxista.
          De nossa parte afirmamos que esta empreitada foi um ‘processo de conversão’ (transformação), saindo de uma visão voluntariosa, porém carente de fundamentação, e que muitas vezes serviu de alavanca para o reformismo tão presente, que nada transforma, mas muda para deixar tudo como sempre esteve. Isto é, as elites permanecem sempre como detentoras de todas as situações (econômica, política, social, cultural e ambiental) e a maioria do povo é excluída das decisões, mesmo nas questões que mais diretamente lhe dizem respeito. E foi, por exemplo, o que aconteceu com a Educação em Candói a partir de 1995 até 2000.
          O Processo de Nuclearização do Ensino Escolar, em Candói, seguiu uma tendência que já vinha de anos acontecendo no Estado do Paraná, atendendo a exigências dos financiadores internacionais, à época do Governo Jaime Lerner, como o Banco Mundial (uma agência das Nações Unidas), cujo nome mais comum é Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD). E o Processo de Nuclearização foi propagandeado como a panacéia de todos os males da Educação...
          O principal objetivo de nossa pesquisa foi entender como isto se deu e as suas decorrências, sendo uma delas o processo de extinção de algumas comunidades, através do seu esvaziamento e o consequente inchaço da cidade. E, ao final, além dos prejuízos constatados, advindos do PN, constatou-se a necessidade de uma Educação contextualizada, a partir do campo, com vista à emancipação da mulher e homem camponeses. Estes, através das pessoas entrevistadas na pesquisa de campo (mães, pais, professoras/es, gestores e líderes), em seus depoimentos, levantaram muitos problemas devido ao Processo de Nuclearização.
          Primeiramente o choque da imposição e do fechamento das escolas rurais (um total de mais de cinquenta), da falta de diálogo dos representantes do poder público e argumento convincente que justificasse tal processo. Depois mostraram o caos que foi criado nos núcleos de ensino (seis localidades com suas escolas), com superlotações de alunos por turmas, espaços coletivos parecendo uma babel, com todas as professoras falando ao mesmo tempo e rumor da gurizada. Falaram da estrutura de transporte (ônibus velhos), com estradas sem conservação; das faltas nos dias chuvosos porque os ônibus não tinham condições de trafegar; das longas distâncias percorridas por seus filhos (as), cedo da madrugada e, por vezes, horas passadas do meio dia.
          Some-se a estes problemas a falta de um Projeto Político Pedagógico contextualizado com a realidade e anseios do campo. Ao contrário, o que continuou foi um programa curricular contextualizado com as temáticas urbanas, pois as escolas de antes da nuclearização já eram estruturadas com ensino nesta linha. O que aconteceu foi reforçar o processo de alienação, desestímulo para a permanência das famílias no campo e o seu esvaziamento (“êxodo rural”), ao invés de sua permanência com desenvolvimento sustentável, justiça, qualidade e satisfação de viver.
          Publicado no Jornal Vale do Iguaçu (Candói 26.01.11)

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