sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

As opções éticas da vida

Nós, seres humanos, somos seres de liberdade. Como defendia Sartre: "O homem está condenado a ser livre". Aliás, nós somos os únicos seres que podem afirmar a liberdade, porque diferentemente dos demais animais, nós temos consciência, podemos fazer escolhas, tomar decisões, fazer opções. Decorrente destas afirmações, uma coisa que demorei para aprender (apesar da consciência), é que nós não podemos ter tudo o que queremos, apesar de que algumas psicologias ou filosofias baratas afirmam que nós podemos tudo! Pode ser que possamos, mas temos que passar nosso querer pela tríade ética: "Quero? Posso? Devo?"

Viver é fazer escolhas, opções, tomar decisões. Eu, por exemplo, em minha juventude, queria fazer Jornalismo, mas não podia, talvez por limitações de consciência à época. Gostaria de ter feito Agronomia, mas alguns fatores me impediram. Gostaria de ter feito Botânica, mas... me tornei Educador, com formação em Filosofia e História, Especializações em História e Educação do Campo e Cursos de Agroecologia. Resumindo, não realizei aqueles sonhos ou "quereres" anteriores, mas de certo modo, pela minha formação, militância social e pelo Trabalho, atingi as três áreas. E, ao atuar nas múltiplas áreas, me realizo quando posso fazer minhas leituras de Mundo; quando consigo trabalhar na Escola (com o Herbário Vivo - Plantas Medicinais) e na comunidade com a Agroecologia, na orientação das famílias; com os cultivos arbóreos (mudas e bonsais em casa e árvores em geral), com a continuidade da pesquisa e dos estudos. E a Educação corrobora minha realização pessoal.

Assim é a vida. Temos limitações ou por vezes nos impomos... Não conseguimos realizar tudo o que queremos, mas nos aproximamos. Certamente temos muitas outras questões, sonhos, projetos que gostaríamos de realizar, fazer, conquistar. Mas se quero, nem sempre posso ou devo. Se posso, nem sempre devo. Se devo, nem sempre quero ou disponho dos meios para realizá-los! Baseados em Jean Paul Sartre podemos afirmar: Somos o que queremos ser, o que escolhemos ser; e sempre poderemos mudar o que somos. Porém as nossas escolhas têm consequências, decorrências, resultados. Ainda que nada possa impedir a nossa liberdade, sempre teremos que fazer escolhas ou eleições entre uma situação e a outra. E às nossas escolhas correspondem as responsabilidades perante nós mesmos e a humanidade. Porque dado o caráter de irreversibilidade de nossas escolhas, uma vez que elas afetam o mundo, havemos de ter responsabilidade em usá-la de forma correta. Oh, dilema! 

Se as nossas escolhas afetam a vida do outros, ou das outras pessoas, isto significa que precisamos delas para sermos, uma vez que nossas decisões definem a nossa identidade. Nós somos através do outro também. Advém destas afirmações a necessidade de postura (ética) em nossas relações profissionais, na educação, nas amizades, entre companheiras/os conjugais,  de convivência, colaboração, cooperação, dentre outras. Como me disse uma amiga, colega de Trabalho: "Cada um é cada um, faz as suas escolhas e e arcará com as consequências" (RM, 17.02.12). E estas se dão entre os elementos do grupo onde se vive. O que confirma o que escreveu o monge trapista estadunidense Thomas Merton: "Nenhum homem é uma ilha". título de uma de suas obras.

Cartela, falando da Ética e do conhecimento, diz: "Talvez as pessoas que estudaram um pouco de etimologia se lembrem que a palavra ética vem pra nós do grego ethos, mas ethos, em grego, até o século VI a. C., significava morada do humano, no sentido de caráter ou modo de vida habitual, ou seja, o nosso lugar. Ethos é aquilo que nos abriga, aquilo que nos dá identidade, aquilo que nos torna o que somos, porque a sua casa é o modo como você é, onde está a sua marca. Mais tarde, esse termo para designar também o espaço físico foi substituído por oikos. Aliás, o conhecimento mais valorizado na sociedade grega era o que cuidava das regras da casa, para a gente poder viver bem e para deixar a casa em ordem. Como o vocábulo nomos significa “regra” ou “norma”, passou-se a ter a oikos nomos (a economia) como a principal ciência. No entanto, a noção original de ethos não se perdeu, pois os latinos a traduziram pela expressão more, ou mor, que acabou gerando pra nós também uma dupla concepção; uma delas é “morada”, e a outra, que vai ser usada em latim, é o lugar onde você morava, o seu habitus".

Logo, as nossas opções éticas nos impulsionam a pensar, encarar e agir ante o todo, a totalidade de nossos semelhantes, dos seres vivos, no Meio Ambiente, com apreço, com cuidado, sempre nos perguntando: 'Posso, devo, quero?' E, finalmente, nas últimas considerações, gostaria de citar ainda Cartela que afirma: "Ser humano é ser junto, e é em relação a isso que vale pensarmos nossa capacidade de dizer não a tudo que vitima e sermos capazes de proteger o que eleva a Vida". De forma pessoal, mais do que nunca, compreendo hoje que para manter, construir ou reconstruir a minha integridade de ser humano de forma responsável, juntamente com meus pares, preciso reavaliar decisões que já tomei e medir bem aquelas que terei que enfrentar. E o importante é que a minha liberdade nem começa nem termina em relação ao meu semelhante. Se ele é livre então sou livre. Se ele não tem liberdade de viver, comer, trabalhar, descansar, vestir, morar, ser feliz..., na dimensão coletividade, então eu também não sou livre!

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