sábado, 17 de abril de 2010

CONCENTRAÇÃO E EXPLORAÇÃO IMOBILIÁRIA


"Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no meio da terra!"
(Isaias 5.8)

Em visita à periferia da cidade de Candói observei mais uma vez uma triste, desumana, injusta e gritante situação social. Estive a ouvir as pessoas, as famílias, seus filhos e suas filhas. Me relataram sobre o modo como políticos (as) chegam ávidos, famintos, desesperados por votos em tempo de eleições (tipo o que aconteceu há pouco em 2008). Chegam, fazem reuniões para mediante qualquer expediente pedir apoio e voto. Contaram como depois das eleições (já acomodados no poder) não aparecem mais para saber ou relembrar sobre as necessidades daquelas famílias.

Estava eu a fazer uma "leitura do mundo" (Paulo Freire) e entendi que sobre aquelas pessoas pesam ainda outros problemas, outras carências, outras formas de pressão... Acontece que elas residem em um terreno que não lhes pertence ou pelo menos não têm um título de posse. Os mesmos que antes lhe pediram (pediram ou trocaram) o voto, enviaram alguém da Assistência Social pedindo os seus Documentos pessoais para (segundo as 'autoridades') conseguir um projeto (?!?) para dar emprego a estas famílias em questão.

Algumas destas famílias teriam um "documento de comodato" sobre a ocupação do terreno (conforme me foi relatado), mas o proprietário não forneceu uma cópia a todas as famílias, de modo, incluive, que alguém fica sem acesso aos serviços de luz, água, luz da rua e outros benefício próprios da "cidadania".

O "proprietário" é uma figura que está circundando a cidade com suas posses imobiliárias. É "político"! Aliás, aqui eu não fui muito feliz, pois todo cidadão ou cidadã que se preze é essencialmente político, isto é, se preocupa e luta pelo bem comum. E é exatamente isto que fazem aquelas famílias quando estão falando de seus problemas, quando estão indo em busca de soluções para suas necessidades mais imediatas. Mas estou falando de políticos (proprietários) que exercem a política conforme a mais elementar cidadania e ainda são filiados a partidos políticos, exercem cargos eletivos e administrativos e... E a situação está assim!

"Me pregunto", se eu tenho bastante dinheiro, sou obrigado a comprar terrenos inteiros em torno da cidade? Se eu tenho bastante dinheiro sou obrigado a adquirir todos os terrenos possíveis e concentrá-los apenas em minhas mãos? Se eu tenho bastante dinheiro, a forma mais criativa, inclusive, é controlar todos os lotes possíveis para fazer exploração imobiliária? Se eu tenho bastante dinheiro, o jeito mais fácil é ter lotes para vender por alto preço impedindo inclusive os mais pobres de poderem adquirir porque eles não são bem vindos ao solo urbano? Se eu tenho bastante dinheiro e ainda por cima exerço cargo político-eletivo-administrativo, a forma mais criativa de ajudar a população trabalhadora, mas muitas vezes sem Trabalho ou desempregada, é ignorar a sua situação e continuar cuidando primeiro e acima de tudo de meus projetos imobiliários, mercadológicos, lucrativos, excludentes e concentradores de recursos, de forma egoísta?

A propósito está aí a campanha da Fraternidade 2010 a nos chamar à razão, à realidade, a olhar o mundo ao nosso redor além de nosso umbigo, a nos solidarizarmos com nosso semelhante, com todos os seres da Terra, exercendo a justiça (não a burguesa que só fala do direito de quem já tem tudo), dos direitos de todos, não só o ser humano, mas da biodiversidade, dos recursos naturais, do Planeta como nossa Terra Mãe e que não aguenta, não suporta mais este modelo depredador-concentrador que exclui, destrói e mata, desde o local até o global!

E esta reflexão nos convida a pensarmos sobre a finitude de nossa curta existência e de como não não vale a pena se preocupar tanto com o dia de amanhã e juntar tantos bens.

"Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (Mateus, capítulo 6, versículos 25 a 30).

2 comentários:

Anônimo disse...

bravo,bravo...sou fã de pessoas que, não so observam a realidade de pessoas menos favorecidas mais tambem lutam para que essa realidade seja mudada,...espero que a população candoiana entenda que as pessoas que tanto falavam em "justiça"e "alegria"para um povo sedento de justiça e paz,são as mesmas que hje estaum de olhos e ouvidos tapados pra tanta desigualdade.
hoje vejo,mesmo de longe que é impossivel ver a tão sonhada"alegria do povo"onde?quando?porque?
quem tem ouvidos ouça!!!!!!!!!
pra naum voltar a cometer o mesmo erro.
parabéns professor
seu grande fã

emerson disse...

exelente!!!