quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

INDÍGENAS NÃO COMPREENDEM O CAPITALISMO MERCANTIL...

...E MOSTRAM A QUASE 500 ANOS  O QUE É SUSTENTABILIDADE

Jean de Léry e André de Thevet foram os responsáveis pelas primeiras referências sobre o pau-brasil em livro. Léry chegou ao Brasil em 1557, época em que Nicolau Durand de Villegaignon tentou desenvolver o projeto de estabelecer no Rio de Janeiro a 'França Antártica', uma colônia que serviria à exploração mercantil e abrigaria os protestantes perseguidos na França. No livro Viagem à Terra do Brasil, Jean de Léry documentou a incompreensão do nativo em relação à necessidade de acumulação de bens por parte dos colonizadores.


"Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e perós (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como supunha ele, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: E porventura precisais de muito? - Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. - Ah!, retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhes dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? - Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso, perguntou-me de novo: E quando morrem, pra quem fica o que deixam? - Para seus filhos, se os têm, respondi: na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos. - Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs e perôs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados".
Na manhã de 22/02/2010 (às 09:10) participei de programa na Rádio Vida, com meu ex-educando Emerson de Mello. O tema da semana é sobre a questão ambiental, sustentabilidade, a nossa responsabilidade enquanto cidadãos/ãs. E utilizei esta passagem (acima citada) como ilustração para falar da necessidade de buscarmos novo modelo  de desenvolvimento social, econômico, político e cultural, que não se baseie mais na dominação, na exploração, na depredação ambiental, na concentração das riquezas e na exclusão. Mas um modelo de desenvolvimento que busque satisfazer as necessidades humanas, com igualitariedade, com justiça, com solidariedade, com respeito e cuidado para com nossa Mãe Terra e com todas as formas de vida, que de forma interdependente dão equilíbrio à vida no Planeta. Caso contrário, se continuar com este modelo de "desenvolvimento" baseado apenas na produção, no consumo desenfreado e na acumulação de capital, a Terra entrará em colapso, pois não sustenta tal paradigma.

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