Artigo
inédito de Karl Marx
O
texto abaixo é um dos achados do projeto Mega – Marx-Engels Gesamt Ausgabe,
que, a partir dos arquivos de Karl Marx, está organizando a sua imensa obra
ainda inédita: 114 volumes, o último dos quais será publicado em 2020.
Para
entender em que mundo vivemos e viveremos, este artigo jamais lido do Capital,
parece ter sido escrito hoje.
O
texto foi publicado no jornal La Repubblica, 08-01-2012. A tradução é de Moisés
Sbardelotto. Eis
o texto.
"A
enorme quantidade e variedade de mercadorias disponíveis no mercado não
dependem apenas da quantidade e da variedade de produtos, mas são, em parte,
determinadas pela entidade da parte de produtos produzidos como mercadorias,
que deverão, portanto, ser inseridos no mercado para a venda na qualidade de
mercadorias.
A
grandeza dessa parte das mercadorias vai depender, por sua vez, do grau de
desenvolvimento do modo de produção capitalista que produz os seus próprios
produtos apenas como mercadorias, e do grau em que tal modo de produção domina
em todas as esferas da produção.
Deriva
daí um grande desequilíbrio no intercâmbio entre países capitalistas
desenvolvidos, como a Inglaterra, por exemplo, e países como a Índia ou a
China. Esse desequilíbrio é uma das causas da crise.
Causa
totalmente negligenciada pelos burros que se contentam em estudar a fase do
intercâmbio de um produto por outro produto e que esquecem que o produto não é,
portanto, em caso algum, mercadoria intercambiável enquanto tal. Isso constitui
também a pedra no sapato que leva os ingleses, dentre outros, a querer
subverter o modo de produção tradicional existente na China, na Índia etc.,
para transformá-lo em uma produção de mercadorias e, em particular, em uma
produção baseada na divisão internacional do trabalho (ou seja, na forma de
produção capitalista).
Eles
conseguem, em parte, esse intento, por exemplo, quando prejudicam os fiadores
de lã ou de algodão vendendo seus produtos a um preço inferior ou arruinar o
seu modo de produção tradicional, que não é capaz de competir com o modo de
produção capitalista ou com o modo capitalista de inserir as mercadorias no
mercado.
Embora
o capital produtivo, por sua própria natureza, esteja disponível no mercado,
isto é, oferecido à venda, o capitalista pode (por um período de tempo longo ou
curto, de acordo com a natureza das mercadorias) mantê-lo longe do mercado se
as condições não lhe forem favoráveis ou com o fim de especular, ou outro. O
capitalista pode subtrair o capital produtivo do mercado das mercadorias, mas,
em um momento posterior, será obrigado a reinseri-lo. Isso não tem efeitos
sobre a definição do conceito, mas é importante para a observação da
concorrência.
A
esfera da circulação das mercadorias, o mercado, é, enquanto tal, diferente também
fisicamente da esfera da produção, exatamente como são diferentes temporalmente
o processo de circulação e o efetivo processo de produção. As mercadorias agora
prontas ficam depositadas nos armazéns e nos depósitos dos capitalistas que as
produziram (exceto no caso de serem vendidas diretamente), quase sempre só de
modo passageiro, antes de serem expedidas para outros mercados.
Para
as mercadorias, trata-se de uma estação de preparação a partir da qual serão
inseridas na efetiva esfera de circulação, exatamente como os fatores da
produção disponíveis permanecem à espera, em uma fase preparatória, antes de
serem transportados para o efetivo processo de produção.
A
distância física entre os mercados (considerados do ponto de vista da sua
localização) e o lugar do processo de produção das mercadorias dentro de um
mesmo país, e sucessivamente fora dele, constitui um elemento importante,
porque é justamente a produção capitalista que faz com que, para uma boa parte
dos seus produtos, o mercado seja constituído pelo mercado mundial. (As
mercadorias também podem ser adquiridas para serem retiradas imediatamente do
mercado, mas esse elemento deveria ser examinado em outros lugares, assim como
a menção anterior às mercadorias que os produtores mantêm longe do mercado).
Consequentemente,
é preciso que o mercado se expanda continuamente. Além disso, em todas as
esferas individuais da produção, todo capitalista produz de acordo com o
capital que lhe é oferecido, independentemente do que fizerem os outros
capitalistas. No entanto, não será o seu produto, mas sim o produto total do
capital investido nessa particular esfera de produção que irá constituir o
capital produtivo, que oferece à venda esta e qualquer outra esfera individual
de produção.
É
um dado empírico que, embora a dilatação da produção capitalista leve a um
incremento, a uma multiplicação do número de esferas de produção, ou seja, de
esferas de investimento do capital, nos países de produção capitalista
avançada, essa variação jamais mantêm o mesmo ritmo que o acúmulo do próprio
capital".
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