quarta-feira, 26 de maio de 2010

AS ESCOLAS MULTISSERIADAS NO CAMPO

          Na tarde de ontem (25/05/10) tive a oportunidade de trazer uma fala sobre "Uma experiência de Educação do Campo¹, a Partir da Pedagogia da Alternância, na Casa Familiar Rural, com ênfase na Área de Ciências Sociais". em evento do Programa Escola Ativa (SECAD/UFPR), no Hotel Del Rey, em Curitiba. Obviamente que explanei sobre o tema tendo como pano de fundo a CFR² onde nós trabalhamos, em Candói. Minhas interlocutoras e um interlocutor eram 40 pedagogas ou educadores que trabalham em Secretarias de Educação, de municípios de todo o Paraná, onde resistem muitas ESCOLAS MULTISSERIADAS.
          Tive esta oportunidade como uma chance ímpar de falar sobre o tema proposto. Falei de tudo sobre uma Casa Familiar Rural, desde sua origem entre camponeses da França até a nossa CFR. Os Instrumentos da Pedagogia da Alternância, a organização da CFR, os benefícios desta modalidade de Educação do Campo (que neste caso, por vezes, está mais para agronegócio!), os fatores limitantes e/ou os problemas que tem. 
          Relatei como foi meu tempo (da 1ª a 4ª série) em que estudei em uma ESCOLA MULTISSERIADA (na verdade em três delas) e de como tenho muita honra daquele tempo de escolarização, ainda que a Professora fosse Multifuncional, pois tinha que dar conta de tudo na Escola... Lembrei que tive a melhor Educadora da época, a minha mãe! (Eponina de Souza Bucco, sem deixar de homenagear as Mestras Margarida Ribeiro e a Laura Zaias Zelinski, de saudosa memória). 
          Permeei minha fala com elementos de minha pesquisa na Especialização em Educação do Campo (UFPR, 2006 a 20080) quando pequisei sobre o tema "O PROCESSO DE NUCLEARIZAÇÃO EM CANDÓI - SUA RELAÇÃO COM OS CONTEXTOS COMUNITÁRIOS E A EDUCAÇÃO DO CAMPO" e como o fechamento forçado de 54 ESCOLAS MULTISSERIADAS de Candói (entre 1995 a 2000) acabou com a melhor e praticamente única política pública que tinham as comunidades, como muitas famílias evadiram-se, esvasiando o campo, indo para a cidade.  E destacamos o fato de que muitas comunidades praticamente desaparecram depois disso.
          Discorri ainda sobre o Paradigma da Questão Agrária, da Agroecologia, como Matriz Tecnológica, mas também, como lembra Miguel Arroio, Matriz Pedagógica, com base na Biodiversidade, na Economia Solidária, na Organização Política, no Cooperativismo, na Sustentabilidade, na busca de Políticas Públicas do Campo. Ao sortear cartilha sobre a Água lembrei de que dali a pouco estaríamos urinando e evacuando na água, dando a descarga e pensando que aquele gesto é a coisa mais natural que há...
Encerramos com um exercício de levantamento da realidade das comunidades onde há ESCOLAS MULTISSERIADAS e vimos como tal exercício, feito junto com o Povo do qual fazemos parte, valoriza e respeita as pessoas, os cidadãos, os sujeitos como atores sociais. Frisei que nem um prefeito, administração ou político... são donos da Educação e das Escolas. Eles são passageiros no tempo e no espaço. Suas funções são de apoio, de suporte às comunidades escolares.
          Terminamos com sorteio de alguns livros e publicações da ASSESOAR  de Francisco Beltrão, sobre o Campo e a EdoC, como forma de divulgar subsídios para se pensar e planejar a aprendizagem na Educação do Campo.
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¹ Educação do Campo: EdoC.
² CFR: Casa Familiar Rural.

2 comentários:

Gelson Costa disse...

Também estudei em Escola Multiseriada. Éramos em 17 alunos no total: de 1ª à 4ª série. Aprendi a Ler e Escrever no 1° ano. Minha professora, a Slauka Medwid, tinha, naquela época 3ª série apenas. Sinceramente uma excelente alfabetizadora, que quase não se encobntra mais. Hoje, sou professor e tenho alunos terminado o Ensino Médio que pouco conseguem ler e escrever. Não sei onde está a evolução que tanto pregam com este sistema educacional que está aí!!! Criticam tanto as Escolas Multiseriadas, entretanto deveriam olhar para o próprio umbigo e reconher o fracasso...

SERGIO BUCCO disse...

Agradeço, companheiro, por tua intervenção... Em minha monografia sobre a nuclearização ousei chamar a escola nuclearizada de "campo de concentração", onde os problemas não se resolvem, apenas mudam de endereço, saem do campo (se é que havia tanto problema com as ESCOLAS MULTISSERIADAS) e se acumulam nos Núcleos e lá multiplicam-se algumas vezes!
Quem tiver dúvidas que faça uma pesquisa, compare... Falaram tanto mal das Educadoras, falaram tanto mal do seu Trabalho, do resultado das suas atividades pedagógicas... para justificar a nuclearização. Mas tu lembras, de forma muito lúcida e imediata, alguns detalhes dos educandos com os quais convivemos hoje nas Escolas de Ensino Médio. Reavivemos a memória e lembremos que a Nuclearização (além do discurso) não foi feita para termos Educação de Qualidade!