Por Heitor Reis.
Se
o povo não governa, não há democracia de fato, por definição, como queremos demonstrar.
Democracia de direito é uma mera figura de ficção científica, um ideal, pelo
qual ainda teremos de lutar muito, para vê-la se tornar, um dia, quem sabe,
talvez, realidade de fato.
Seria
possível ao povo governar sem qualquer ação, além do voto? Sem qualquer outra
participação? Existiriam, então, duas formas de "democracia", uma participativa
e outra não? Isto é, ter "legítimos" representantes que não lhes prestam
contas, iludindo-os com uma fantástica propaganda enganosa, a cada eleição,
financiada pelos seus legítimos (sem aspas) representados: os mais ricos, que
tem grana para tanto. Ou, ainda, o outro lado da moeda: que os representados
não são capazes de lhes cobrar o resultado desta representação e nem
têm consciência dos mecanismos do poder e da mercadologia política?
("Marketing", para os alienados idiomáticos) Ou seriam mantidos
assim, para este fim?
Não
há democracia de fato, se uma classe privilegiada economicamente financia seus
legítimos representantes, o que é impossível aos mais pobres fazer. Nem todos
são iguais perante a lei...
Não
há democracia de fato, se os eleitos representam prioritariamente os interesses
de seus financiadores de campanha, em detrimento do interesse dos eleitores.
Não
há democracia de fato, se os eleitores não tem cidadania: conhecimento e ação
compatível com o usufruto pleno de seus direitos e deveres, não lhes sendo possível
a adequada manifestação e participação para exercê-los, governando, assim, a
Nação, o Estado, os políticos e demais funcionários teoricamente públicos.
Não
há democracia de fato, se afro-brasileiros e mulheres são minoria numérica e
percentual nos mais elevados cargos públicos e privados, nos cursos universitários
de melhor remuneração, mesmo sendo a grande maioria da população.
Não
há democracia de fato, se mulheres e afro-descendentes não recebem o mesmo salários
de homens brancos, quando têm a mesma qualificação e exercem a mesma função,
com o mesmo desempenho.
Não
há democracia de fato, quando o Estado escravagista não reconhece o crime que
cometeu contra a humanidade, privilegiando uma elite dominante branca e católica,
através da dor e morte de outro povo e de sua religião, jamais fazendo qualquer
reparação compatível com tal atrocidade.
Não
há democracia de fato, se a urna eletrônica não é auditável e não imprime o
voto, conforme previsto originalmente, eliminando, por parte do TRE e partidos,
qualquer verificação de possíveis erros intencionais ou premeditados.
Não
há democracia de fato, se os direitos das minorias numéricas e percentuais como
homossexuais, índios, ciganos e caboclos, etc., não são respeitados pela maioria.
Não
há democracia de fato, se o salário-mínimo é 1/4 do valor que deveria ser, em
termos constitucionais e calculado pelo DIEESE - Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos.
Não
há democracia de fato, se nossos presidentes da República nada mais são que
"motoristas da elite", como afirmam João Pedro Stédile e Dom Mauro
Moreli:
"O
Estado brasileiro não está preparado para ajudar pobre, o Estado brasileiro,
como disse Dom Mauro Morelli, numa palestra lá na UFRS, é igual a uma van, só
cabem doze, e a cada quatro anos eles nos dão o direito, nós que estamos no
ponto de ônibus, de escolher o motorista, mas continuam só doze andando de van.
O Estado brasileiro tem que deixar de ser van e virar um trem, virar um navio,
onde todos possam ter acesso aos serviços públicos."
Não
há democracia de fato, se há corrupção nos Três Poderes da República (ou melhor,
Reparticular!), se as relações com o legislativo não são muito assépticas
(FHC), se ali há uma maioria de picaretas e se o Poder Judiciário é uma
caixa-preta como defende Lula.
Não
há democracia de fato, se cadeia é somente para preto, pobre e prostituta, sendo
o Judiciário, como os demais poderes, um mero balcão de negócios, a serviço dos
eternos capitães hereditários deste país, raramente condenando um político corrupto,
provando para a população que o crime compensa. Ou melhor, os grandes crimes
compensam...
Não
há democracia de fato, se os capitalistas, para atender sua voracidade pelo
lucro, avançam sobre o meio-ambiente, levando-nos à possibilidade de destruição
da biosfera e da humanidade, prejudicando ou inviabilizando a existência das
próximas gerações.
Não
há democracia de fato, se a Constituição Federal não é respeitada em vários
aspectos, como a comunicação, planejamento familiar, etc., não dando ao pobre o
mesmo direito de expressão e de reprodução que tem a classe média e os ricos.
Não
há democracia de fato, se o oligopólio da mídia domina o setor e assume todos
os postos de controle, impedindo a legitimação de umas 15.000 rádios de baixa
potência que operam sem autorização, por incompetência do Estado em atender-lhes
as solicitações para se tornarem oficialmente comunitárias, mas é altamente
eficaz em proteger a comunicação comercial que deveria ser uma concessão
pública com gestão privada e em perseguir aqueles que concretizaram a única
comunicação verdadeiramente pública do país.
Não
há democracia de fato, se o oligopólio da mídia domina o setor e impede que a
TV comunitária saia do canal a cabo e possa transmitir em sinal aberto.
Não
há democracia de fato, se a quase totalidade da população não confia nos políticos
que, teoricamente, a deveriam representar.
Não
há democracia de fato se maioria da população é mantida na ignorância idiomática
e política para legitimar tudo isto, através do voto, hipnotizado diariamente
pela mídia mercenária para acreditar que se trata de um governo do povo, para o
povo e pelo povo, onde todos são iguais perante a lei, etc.
Não
é por acaso que pesquisa da ONU na América Latina (e deve ser assim no resto do
mundo também) concluiu que a grande maioria prefere a ditadura. Na realidade, o
que o povão quer dizer, e a ONU, dominada pelos EUA não diz, é o seguinte: se
isto que nós temos é democracia, prefiro uma ditadura que resolva nossos
problemas!!! E, sem nenhuma sombra de dúvidas, uma ditadura jamais resolverá os
maiores problemas de qualquer povo, já que defende, por definição, os
interesses de uma minoria e, jamais, da maioria. Mais detalhes em
"Ditadura
do
Proletariado, a Única Democracia Possível".
Ficará
livre da Matrix da mídia e da escola, todos a serviço do Estado e este, a
serviço daqueles que o privatizaram para usurpar impostos, salários e manipular
os preços do "livre" mercado, concentrado mais da metade da riqueza nacional
nas mão de 1 % da população. Em síntese, explorar a classe trabalhadora, com a
ajuda da classe média.
Como
diz a sabedoria popular, em prosa e verso: O rico fica cada vez mais rico e o
pobre, cada vez mais pobre. Ainda que tenha melhorado um pouco, no governo Lula,
mas ainda muito longe da justiça social existente numa democracia de verdade.
Qualquer
analfabeto, semi-analfabeto, alfabetizado, intelectual ou acadêmico que
sinceramente se debruçar sobre este tema, deixando de lado a lavagem cerebral
(sujagem cerebral) que sofreu desde a infância, chegará a esta conclusão:
Não
há democracia política.
Não
há democracia econômica.
Não
há democracia social.
Não
há democracia racial.
Não
há democracia de gênero.
Não
há democracia jurídica.
Não
há democracia educacional.
Não
há democracia midiática.
Não
há democracia habitacional.
Não
há democracia agrária.
Não
há democracia ambiental.
Não
há democracia em hipótese alguma!
Não
há democracia de fato! Apenas de direito... Ou de direita? De mentira, de
ficção, de ilusão, de sonho, de formalidade, de fachada, para inglês ver, englobação,
etc.
Parabéns,
ao PSOL, que, no programa partidário de hoje, 28/04/2008, na TV, ousou afirmar
que vivemos sob uma ditadura dos banqueiros e por se recusar, publicamente, em
outras ocasiões, receber doações desta categoria, tão nefasta, quando
empreendedora. Por denunciarem o tamanho da dívida pública no pagamento, mas
privada, na aplicação do capital.
Que
o povo brasileiro, este gigante adormecido diante da TV, viciado em meramente
assistir os BBB, Duas Caras, futebol e outros esportes, ouse tirar a bunda da
poltrona, se organizar e ir para as ruas, atendendo ao chamado das Brigadas
Populares e outras organizações similares. Afinal, o preço da democracia é a
eterna vigilância de quem tem o dever de governar neste sistema: o povo!
(Thomas Jefferson disse o mesmo sobre o preço da liberdade).
Espero
que esta nova geração de lutadores tenha tomado todo o cuidado necessário para
que não seja cooptada, como outros "revolucionários" já o foram, em
passado recente, servindo hoje aos inimigos dos ingênuos trabalhadores deste país...
Da luta de classes, caíram na conciliação, e foram engolidos por uma relação
adúltera, profana e masoquista, com seus algozes!
(*) Heitor Reis é
engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e
membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de
Vida (www.cmqv.org). Nenhum direito autoral reservado: Esquerdos Autorais
("Copyleft"). Palestras gratuitas. Contatos: (31) 3486 6286 - heitorreis@...
Observação: tomei emprestado do CAFÉ HISTÓRIA, eliminei a ilustração inicial e revisei o texto.
Um comentário:
Andei lendo alguns textos de Heitor Reis, mas não encontro textos atuais...tem alguma informação?
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