sábado, 18 de junho de 2011

Fechar Escola é crime


É crime porque fechar escola é a mesma coisa que enfraquecer ou acabar com a comunidade. É expulsar os trabalhadores do campo. É esvasiar o campo, aquilo que se chama êxodo rural. É inchar e favelizar as cidades. É dificultar a educação dos filhos e filhas dos camponeses. É promover a violência no campo e na cidade. É concentrar a terra nas mãos do latifúndio. É promover a monocultura e a morte da biodiversidade. É acabar e encarecer os alimentos de qualidade. É apoiar o agronegócio, os veneneiros, a alimentação contaminada...

Alguém poderia perguntar: por que a referência do tema fechamento das escolas e o campo? Eu responderia: porque o fechamento das escolas está muito ligado ao campo e à questão agrária, considerando que o processo de nuclearização dos anos 90 atacaou frontalmente o campo e trouxe consequências muito negativas para as cidades. E, infelizmente, este processo, depois de 10 anos de discussão, reconhecimento, legalização e implantação da Educação do Campo (EdoC), está retornando criminosamente para fechar as escolas do campo e as escolas rurais que ainda restam.

Em meados dos anos 90, no município de Candói, a administração municipal iniciou o processo de nuclearização, através do qual conseguiu fechar mais de 50 escolas. E com o seu fechamento vieram sobre as comunidades do campo todas aquelas mazelas citadas no início desta coluna.

Hoje a cidade tem muita gente “morando”, “habitando”, “sobrevivendo”. Mas agora esta gente não tem mais os espaços da horta, do pomar, do galinheiro, do chiqueiro de porcos, do curral das vacas de leite, das ovelhas, dos cabritos, do açude de peixes, da apicultura, dos múltiplos cultivares agrícolas, como o feijão, o arroz, a batata, a amandioca, a cana, a abóbora, etc.

A cidade tem muita gente que não está preparanda ou em condições de viver dignamente nela.  São gente que não tem profissão, não tem formação, não tem tem Trabalho nem emprego, não tem onde morar dignamente, não tem o que vestir decentemente, não tem o que comer equilibradamente.. muita gente nestas condições vivem por conta do bolsa família, das cestas básicas da promoção social (quando tem!), da caridade das instituições civis e religiosas.

As seis escolas núcleos, especialmente as escolas da cidade, estão vazando “alunos” pelas janelas. As educadoras (es) estão estressadas, doentes, desencantadas com a realidade das escolas. Muitos “alunos”, além das consequências citadas anteriormente, chegam à 5ª série ou ao 6º ano, sem saber ler, escrever, calcular, que são as condições mais primárias da alfabetização. Além do que chegam à escola com um pacote de problemas originados de suas condições sócioeconômicas.

Depois deste quadro exposto, relembrado reiteradas vezes, não me venham dizer que “fechar as escolas” do campo, colocar ônibus para o transporte escolar das crianças, que concentrar as crianças em poucos núcleos, significa escolas ou educação de qualidade!

O campo precisa do retorno das suas escolas. Aliás, em boa medida, precisa também da Reforma Agrária e do retorno do seu povo. Não precisa mais das “escolas rurais municipais isoladas”, mas de Escolas do Campo com um Projeto Político Pedagógico que reconheça o campo, que respeite o contexto do campo, que valorize os povos do campo, com toda a sua carga histórica de experiências e conhecimentos, e pense o desenvolvimento do campo de forma sustentável, sob a matriz tecnológica da Agroecologia, sem esquecer a sua interdependência com o povo da cidade e vice versa.

Nenhum comentário: