quinta-feira, 28 de abril de 2011

A FAMÍLIA E A ESCOLA


Fonte AQUI

       Eu poderia começar este artigo falando da Família e a Educação. Mas apontei aquela que é a "base da sociedade" e um dos aspectos da Educação que é a Escola. Pois bem, a Família está em dificuldades de toda a ordem. E estas refletem-se no ajuntamento de crianças e adolescentes chamada de Escola. As crianças chegam para a Escola como a um ponto de encontro, de recreação, como lugar de estravazarem suas mágoas, seus dissabores, seus descontentamentos, suas mazelas, suas carências afetivas, materiais, como se a Escola fosse um lugar para reproduzir a violência de que são vítimas ou com a qual convivem no seu cotidiano. Violência, que nos casos mais patológicos, mais intrigantes, mais palpáveis, é constituída pela da fome, pela moradia precária, pela falta de vestuário, pela falta de Trabalho e Renda, de emprego, falta de terra, de autonomia, falta de bases de apoio familiar (ainda que a família tenha outros desenhos como avós, tios/as, novos arranjos, novos casamentos, etc.). 
          E poderíamos acrescentar aqueles e aquelas que apenas sabem  gerar filhos/as, parí-los e jogá-los no mundo, tipo "filhos e filhas de perdiz". Não acompanham o crescimento da nova geração, não ensinam nada da educação familiar, não conseguem negociar nem impôr limites aos seus rebentos. E depois empurram as crianças para que a escola dê conta de sua incompetência e de sua falta de capacidade de educá-los dentro das mais elementares normas de convivência humana. Falta a mães e pais um aparelho chamado 'desconfiômetro' e e um remédio conhecido como  'semancol'!  
           No tempo em que estamos vivendo ainda têm os pais e mães que trabalham o dia todo fora de seus lares e seus filhos ficam abandonados à própria sorte, quando muito sob cuidados de pessoas nem sempre idôneas para acompanhar as crianças em suas diferentes necessidades de apoio emocional, psicológico, material, físico e espiritual.
        
            Esta é a realidade com a qual trabalhamos diariamente na Escola. É um contexto que exige de você, na condição de educador, uma ginástica quase impossível. Há um desgaste enorme. Há um grau de estresse muito elevado. E por mais que a Escola esteja aparelhada com profissionais que vão desde a estrutura de serviços básicos (como limpeza, alimentação, administrativo), Educadores (professores, pedagogas/os, diretoras/es, equipe de apoio), não consegue dar conta de tantas demandas por "apagar incêndios" nas turmas, chamando e tratando dos casos específicos, individualizados ou coletivos.
            Este quadro aqui apenas rascunhado representa um enorme prejuízo ao processo de Ensino-Estudo-Aprendizagem. E se a sociedade está constituída contraditóriamente por pessoas pertencentes a classes sociais tão antagônicas, como realmente é, a Escola contribui com esta situação e ainda nivela por baixo a Educação. Aqueles educandos oriúndos de famílias com um mínimo de estrutura afetiva, psicológica, material, ética, cujas mães, pais ou responsáveis acompanham e se preocupam com a vida de seus filhos e suas filhas, que lhes oferecem as bases para sonhos e/ou ambições, estes conseguem avançar nos estudos, no desenvolvimento do conhecimento e conseguem ocupar alguns lugares no Mundo do Trabalho ou no "mercado de Trabalho". Mas há famílias que não se sentem com força, com vontade ou com disposição de tempo para virem à Escola, para se preocuparem com o desenvolvimento de seus filhos e filhas, ou para acompanhar-lhes no simples ato de estudar e fazer as atividades escolares em suas casas. Entretanto, em absoluto, não estamos afirmando que a Escola é apenas este quadro aqui retratado... Ela é muito rica de experiências, de possibilidades, de potencialidades e de realização, até que alguns governantes, devidamente pagos por nós Povo e iluminados, não consigam baratear e acabar com o real sentido do Ensino-Estudo-Aprendizagem!
            Por outro lado têm mães, pais e responsáveis, que independentemente de sua condição social, de sua formação, de morar na cidade ou no campo, sempre procuram a Escola para saber de seus filhos e filhas, para orientarem a Escola a respeito das dificuldades de suas crianças e adolescentes, ou que prontamente chegam até a Escola logo que sejam chamados e/ou convocados para ajuderem nas questões pertinentes aos mancebos e raparigas. Nem tudo está perdido. Mas às vezes parece que estamos em uma luta inglória. Mesmo assim não perdemos o ânimo, a energia, a disposição de perseguir o desenvolvimento científico, intelectual, psíquico da petizada, de orientar-lhes nas questões em que há demanda, de distribuir a atenção necessária a cada um e cada uma, de ouvir-lhes em suas dificuldades, de distribuir o afeto e o carinho possíveis em cada caso. 
          Quando iniciamos as novas turmas ao início de cada ano letivo, com as turmas do 6º ano (antes 5ª série do EF), recebemos uns e outros totalmente desajustados, sem noção de limites, sem o entendimento de que para viver em sociedade precisamos obedecer normas de convivência, que se faz necessário conhecermos os nossos direitos e os nossos deveres. Trabalhamos com turmas  em que ao mesmo tempo que temos uma preocupação com a formação científica, com o desenvolvimento do conhecimento, com a sua formação de modo geral, de forma integrada com as demais áreas do conhecimento, também dispensamos o cuidado, a preocupação com cada um/a deles/as, o afeto ao nível do possível, sem pretendermos substituir o papel de seus pares imediatos (pais, mães, responsáveis, em fim, as famílias). 
          Aqui porém vem a tona um outro ingrediente na relação educandos X educadores. Quando você procura desenvolver o processo do conhecimento de forma agradável, sincera, divertida (mas sem barateamento da Educação), alguns "alunos" acabam confundindo as coisas e temos que apelar para a equipe de pedagogas, direção e procedimentos afins. É nestes casos procuramos fazê-los entender que temos uma verdadeira preocupação com sua formação e desenvolvimento científico. Que para nós não existe "tanto fez como tanto faz", não nos baseamos no "faz de conta". Lutamos para que todos/as cresçam, mas se alguns não conseguem se integrar, os "remédios" adequados temos que ministrar para não pôr toda a turma a perder! E quando chegamos ao limite do insustentável nos obrigamos a "rodamos a baiana".

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